Gata Borralheira

MULTIPLICIDADE CULTURAL

DANIEL LIMA - 16/04/2002

-- Que que é isso, meus amigos! Temos aqui um debate interessantíssimo. De um lado, Diadema dando uns catiripapos; de outro, São Caetano com esgrima. 

-- Catiripapo não senhora, São Paulo! Minha cultura é de hip-hop, é de dança, é de instrumentos musicais. É isso tudo que levo para meus excluídos. Estou transformando nossa sociedade pela arte. Sabemos que é uma caminhada longa, mas os resultados aparecem. Cansei de produzir Pixotes. Hoje tenho artista de novelas da TV Globo, na Casa dos Artistas, tenho jogador de futebol na Europa depois de ser vendido por R$ 65 milhões, tenho dançarinos reconhecidos mundialmente. Enfim, tenho gente com qualidade. Isso não é obra do acaso. É resultado de anos e anos de uma administração voltada para o social. 

-- E eu, São Paulo? Quem não ouviu falar do Azulão? Quem não conhece minha fama estadual de campeão dos Jogos Abertos do Interior há muitos anos?

-- Se é para desfilar títulos culturais e esportivos, vou entrar nessa conversa. Sempre fui uma fábrica de campeões de voleibol, de boxe e de outras modalidades. Sou o berço do voleibol brasileiro. Com a Pirelli, por exemplo, conquistei vários títulos nacionais e internacionais. Sou a terra do Celso Daniel, que era jogador de basquetebol. 

-- Vamos mudar de assunto, gente? Será que vou ter de jogar na cara de vocês todo o patrimônio turístico de entretenimento que tenho aqui e que vocês todos não fazem nada para me dar uma mão? Já pensou se a Grande São Paulo trabalhasse em conjunto para ocupar os meus espaços, para trazer investidores que considerem para valer a importância da qualidade de vida fora da zona propriamente urbana? 

-- Ribeirão Pires está certa. Se todo mundo for desfilar seus feitos culturais e esportivos, vamos ficar aqui o dia inteiro, porque emoções nunca nos faltaram. É claro que sou a maioral. Só no futebol, que é a paixão nacional, conto com os três principais times do Estado, donos de mais torcida do que todos os times do ABC e das outras regiões do Estado. Ou vocês vão me dizer que quem tem Corinthians, São Paulo e Palmeiras não pode se dar ao luxo de esnobar os outros? Também no futebol vocês sofrem de Complexo de Gata Borralheira. 

-- Tem razão, São Paulo, tem razão. Veja só que até tentaram sacramentar o nosso Complexo de Gata Borralheira no futebol com a proposta de chamar o Santo André de segundo clube do coração. Queriam fazer algo parecido com o Juventus, da Mooca, que sente orgulho de ser seu segundo time. Nossos gênios só se esqueceram que o Juventus tem mesmo é que trabalhar esse marketing porque é da Rua Javari, e a Rua Javari não pertence a Santo André. 

-- Já vi que com o argumento de São Paulo ninguém pode. Até lá nas minhas terras, quando se fala em futebol, esses três times é que mandam.

-- Bom pessoal, se até Rio Grande da Serra reconhece minha liderança esportiva, que falar mais? O fato mesmo é que só agora me dei conta de que ainda contamos com duas cadeiras vazias. Estou realmente preocupada em saber quem vai ocupá-las. A cadeira de cabeceira é do manda-chuva, só pode ser do manda-chuva. Se não fosse, não atenderia seu pedido para vir aqui. Já a outra, nem tenho idéia. De qualquer forma, vamos continuar nosso bate-papo. Adoro conversar com meus holofotes. 

-- Me permita, querida São Paulo, voltar ao assunto de que estávamos tratando, isto é, de características culturais e esportivas. Acho que a discussão não se encerrou e nem deve ficar na superficialidade, porque o buraco é mais embaixo. 


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